Poetry slam ou o advento de Jam sessions da palavra

“Poetry slam” traduz um conceito performativo baseada em textos curtos, normalmente limitados a três minutos de intervenção, sendo que a expressão “Slam” identifica atualmente um nicho criativo de poesia autoral de matriz teatral que tem recrutado adeptos por todo o mundo, ao constituir um movimento despretensioso de exercício de poesia sonora e partilha de ideias, à margem dos circuitos artísticos mainstream. Contribuindo para ressuscitar a tradição oral da cultura, que a forma escrita veio substituir, esta prática, que nasceu em Chicago, EUA, nos anos 80, tem cativado cada vez mais performers e seguidores.
Num destes encontros o público rendeu-se ao poeta Neil Hilborn, que aqui declama um comovente e intenso poema sobre o amor, vivido através da sua condição pessoal (o artista tem transtorno obsessivo compulsivo (OCD)).

Quando a vi pela primeira vez…
Tudo ficou em silêncio na minha mente.
Todos os tiques, todas as imagens que se renovam o tempo todo simplesmente desapareceram.
Quando tens transtorno obsessivo compulsivo, tu não tens momentos de silêncio.
Até mesmo na cama, penso:
Tranquei as portas? Sim.
Lavei as mãos? Sim.
Tranquei as portas? Sim.
Lavei as mãos? Sim.
Mas quando a vi, só consegui pensar na curva dos seus lábios,
Ou na pestana na sua bochecha,
na pestana na sua bochecha,
na pestana na sua bochecha.
Tive a certeza de que tinha de falar com ela.
Pedi que saísse comigo seis vezes em trinta segundos.
Ela disse que sim depois da terceira, mas não achei que me saí bem em nenhuma das vezes, então tive de continuar.
No nosso primeiro encontro, passei mais tempo a organizar a minha comida de acordo com as cores do que a comer, ou conversar com ela, porra…
Mas ela adorou.
Adorou porque eu tinha que beijá-la 16 vezes quando me despedia, ou 24 vezes, se fosse quarta-feira.
Adorou porque eu demorava anos para ir pra casa porque havia muitas rachas na calçada.
Quando fomos morar juntos, ela disse que se sentia segura porque ninguém jamais roubaria a nossa casa, eu definitivamente tinha trancado a porta 18 vezes.
Eu ficava sempre a observar a sua boca enquanto ela falava,
enquanto ela falava,
enquanto ela falava,
enquanto ela falava,
enquanto ela falava.
Quando dizia que me amava, a sua boca arqueava os lábios nos cantos.
À noite, ela ficava na cama e via-me apagar todas as luzes, e acender, e apagar, e acender, e apagar, e acender, e apagar, e acender, e apagar, e acender, e apagar, e acender, e apagar, e acender, e apagar, e acender, e apagar, e acender, e apagar, e acender, e apagar.
Ela fechava os olhos e imaginava que os dias e as noites estavam passando à sua frente.
Em algumas manhãs, eu começava a despedir-me com beijos, mas ela simplesmente ia embora porque eu a atrasava para o trabalho.
Quando eu parava à frente de uma racha na calçada, ela continuava a andar…
Quando dizia que me amava, a sua boca ficava numa linha reta.
Disse que eu estava a tomar-lhe muito tempo.
Na semana passada, começou a dormir em casa da mãe.
Disse que não devia ter-me deixado ficar tão próximo dela, que a coisa toda foi um erro, mas…
Como pode ser um erro se não preciso lavar as mãos depois de tocá-la?
O amor não é um erro, e estou a morrer porque ela consegue fugir disso, e eu simplesmente não consigo.
Não consigo… não consigo sair e encontrar outra pessoa porque penso sempre nela.
Geralmente, quando fico obcecado pelas coisas, vejo germes penetrando na minha pele.
Eu vejo-me esmigalhado por uma sucessão infinita de carros…
E ela foi a primeira coisa bonita na qual me travei.
Quero acordar todas as manhãs pensando na forma como ela segura o volante,
Como abre o chuveiro como se fosse um cofre.
Como apaga velas,
apaga velas,
apaga velas,
apaga velas,
apaga velas,
apaga…
Agora, só consigo pensar em quem mais a está beijando.
Não consigo respirar, porque ele só a beija uma vez – ele não se importa se é perfeito!
Quero tanto tê-la de volta…
Que deixo a porta destrancada.
Deixo as luzes acesas.

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